31/10/07

Portalegre e os Portalegrenses

(Por Luisa Moreira no Jornal O Distrito)

Sei lá porquê, espero mesmo que sem razão nenhuma, tenho sentido que a cidade, a nossa, a de Portalegre mesmo, está a ficar cada vez mais longe de quem a habita. Ou seja, a cidade está a ficar impessoal, descaracterizada.
No entanto, concordo que têm sido feitas grandes melhorias, que as obras do Polis correram relativamente bem. Gosto, por exemplo, da barbacã, das muralhas à vista, da relva frente ao Centro de Saúde. Gosto, e muito, do novo edifício da Câmara Municipal.

Não gosto do trânsito ilógico, não entendo o estacionamento, não gosto da Jardim da Corredoura, detesto a paragem de autocarro junto ao Semeador. Mas não são sequer estas questões, insignificantes, que me levam a trazer Portalegre para o editorial. É mais do que isso! É um sentimento triste, angustiante até, que experimento quando, diariamente, circulo na minha cidade.

Eu sou insuspeita! Amo Portalegre. É a minha cidade-vida. É aqui que me revejo, confesso-me nas esquinas riscadas por condutores de pouca perícia, comovo-me com os arcos onde espreita a Serra, rio-me quando tropeço nas calçadas gastas. Eu gosto do meu Presidente da Câmara, admiro o executivo, penso que o trabalho feito tem mérito. É por isso que ando ainda mais baralhada! O que está a acontecer? Porque é que eu sinto, que todos sentimos, que todos sabemos que sentimos (pareço os outros…) a cidade a fugir da nossa existência?!

Às vezes penso, se calhar erradamente, que a cidade está feita numa vaidosona imoral!

Preocupa-se muito em ficar bonita para os outros, recebe prémios sonoros e importantes, engalana-se para as visitas e negligencia os que a fazem existir de facto… Penso no velho banco de José Duro arrancado na Corredoura, lembro os azulejos dos painéis azuis e brancos a cair, olho o Semeador com medo do autocarro que pára em frente e apetece-me zangar-me com Portalegre!

Se uma cidade não é de quem a habita, se nos sentimos estrangeiros na nossa terra, para que servem os prémios sonoros e as sessões pomposas?!

Perguntar é legítimo e não ofende. Acho eu…

Sem comentários: